Morais Cardoso


O velório foi extremamente triste. Aracy tentou contatar a família de Isadora, mas sem sucesso.
Todos estavam lá, inclusive o padre que havia ajudado a jovem há mais de dez anos.
“Triste fim, mas tenho certeza de que ela cumpriu o propósito divino. Vá em paz.” – disse o padre.
O menino chorava muito, sentia que havia perdido uma parte de si. Em seus sonhos, ele sempre aparecia como um herói naquela estrada de terra e salvava a jovem do atropelamento. Eles então saíam felizes. Aracy tentava consolá-lo, em vão.
No momento do enterro, o pobre menino passou mal e precisou ser amparado para voltar para casa. O menino que achava que era sua culpa ela ter morrido, pois ela havia ido à mercearia para comprar algumas coisas para seu almoço. Se não fosse por isso, ela não teria morrido, pensava ele. Foi um momento muito triste.
A semana se passou e o menino passou seu aniversário em branco, os aniversários seguintes também não foram comemorados.
O menino todos os dias rezava à Nossa Senhora e guardava a imagem com muito zelo em cima de seu armário para que estivesse sempre olhando por ele. Todos os dias lembra-se de Isadora e como ela fora importante a ele.
Henrique cresceu e tornou-se um adolescente muito inteligente. Queria ser médico para poder ajudar as pessoas, cuidar de sua mãe Aracy e poder fazer pelas pessoas aquilo talvez não fizeram por Isadora, que também considerava uma mãe.
Sempre tinha as melhoras notas na escola e, aconselhado por alguns professores e por dona Aracy, resolveu no fim de seu último ano de segundo grau ir à São Paulo fazer algumas provas para uma universidade pública. Era sua primeira viagem sozinho e rezou muito à Nossa Senhora para tudo dar certo, pois havia estudado muito. Além disso, sabia que Isadora ficaria orgulhosa. O resultado daquela prova sairia em fevereiro, no mesmo dia em que a jovem havia falecido e as aulas começariam um pouco depois de seu aniversário de 18 anos. Parecia uma brincadeira do destino.
No dia em que saíram os resultados, Henrique ficou sabendo através de um amigo que tinha em São Paulo que ele havia sido aprovado. Estudaria medicina em uma das melhores universidades do país! Aracy chorou muito e disse ao rapaz que sabia que Isadora estaria olhando para ele orgulhosa.
O jovem Henrique agradeceu muito a Nossa Senhora e a Isadora, pois sabia que ela estava olhando por ele, de onde quer que estivesse.
Chorou muito, coincidentemente no aniversário de morte de 6 anos de Isadora. “Ela ficaria orgulhosa”, pensou o rapaz.
Agora Henrique sabia que começaria uma nova vida, em pouco menos de uma semana precisaria arrumar suas coisas e se mudar para São Paulo, Aracy inclusive o ajudou a arrumar um bom lugar para o rapaz morar, perto da universidade, através de um grande amigo de tempos passados, que morava em São Paulo. Ela mal podia se conter de tanto orgulho e alegria.
Alguns dias se passaram e Henrique já estava com quase tudo pronto. Partiria para São Paulo naquele mesmo dia, precisava estar ao aeroporto de Teresina às 14h00. O avião partiria às 15h00 pontualmente e o táxi estaria na porta de sua casa às 11h00.
Mal conseguia conteve-se de tanta alegria. Lembrou-se então de que precisaria levar aquela imagem junto com ele, para sempre rezar e também lembrar-se de Isadora, que fora tão importante em sua vida.
A imagem estava em cima de seu armário, assim como esteve por todo esse tempo. Pegou um banco para conseguir pegar a imagem que estava no alto, mas desequilibrou-se e a imagem caiu no chão, quebrando-se em vários pedaços.
Henrique, desesperado, ajoelhou-se e começou a chorar. De repente percebeu um pedaço de papel dobrado caído no meio dos cacos da imagem e, enxugando as lágrimas, pegou o papel, desdobrou-o e começou a ler. CONTINUA.

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