Morais Cardoso


“Durante a cirurgia ela teve uma parada cardíaca, tentamos tudo ao nosso alcance, mas não foi possível salvá-la. Ela não resistiu aos ferimentos. Sinto muito.” – disse o médico de cabeça baixa.
Aracy não se conformou, ela estava mesmo morta. O pobre menino não acreditou no que ouvia. Há menos de uma semana para seu aniversário de 12 anos, como algo tão terrível pudera acontecer? Não havia uma explicação plausível para aquele momento. Havia apenas dor e sofrimento.
Isadora era considerada uma filha por dona Aracy e o menino Henrique a considerava uma mãe, uma segunda mãe.
Aracy sentiu-se péssima e logo pensou: ”Por que eu não a levei em um hospital melhor? Por que isso foi acontecer? Por quê?”. Sentia-se traída pelo destino, mas sabia que mesmo devastada precisava fazer um velório digno para uma mulher tão batalhadora como Isadora. Ela merecia o melhor.
Henrique chegou devastado, seus olhinhos brilhavam, estava apavorado, queria gritar, dizer ao mundo como estava se sentindo péssimo, passou a odiar seu aniversário, passou a odiar tudo ao seu redor. Sua vida não fazia mais sentido, estava perdido. Queria Isadora de volta. Considerava-a como uma mãe, esteve presente em todos os momentos de sua vida e seria para sempre lembrada. Era difícil aceitar que alguém tão amada pudesse partir assim, sem ao menos dizer adeus.
Henrique foi então até o quarto no qual a jovem dormia, olhou à Nossa Senhora e começou a rezar, pedindo para tudo aquilo fosse apenas um sonho ruim e que ele logo acordasse com um suave beijo de Isadora em seu rosto. Pegou então Nossa Senhora nos braços e chorando, deitou-se na cama dela, sentindo seu suave cheiro e adormeceu.
Os vizinhos, ao saberem do acorrido foram todos à casa de dona Aracy, oferecendo-lhe de tudo, mas aquilo que aquela senhora mais desejava jamais teria de volta: Isadora. Se ao menos pudesse abraçá-la pela última vez e dizer o quanto a amava... Mas não podia.
Aracy então chamou um dos vizinhos para olhar Henrique enquanto ia preparar os papéis para o funeral. Enfim, com muita frieza resolveu tudo, o velório seria no dia seguinte pela manhã e o enterro às estava marcado para 15h00. Desejava que tudo fosse breve para sofrer o menos possível e para poupar o pequeno Henrique de tanta dor.
Assim que chegou em casa, agradeceu o vizinho e foi olhar Henrique, que ainda dormia com a imagem de Nossa Senhora nos braços. Lembrou-se do que havia prometido à Isadora semanas atrás, a imagem agora era do menino.
Assim que o menino acordou, completamente abatido, Aracy fez-lhe um leite quente e contou ao menino sobre a imagem: “Ela agora é sua, sempre que estiver com essa imagem, saiba, Isadora estará com você.” – disse Aracy e se abraçaram, começaram então a chorar.
No dia seguinte, tudo seria ainda mais triste. CONTINUA.

Categories:

Total de visualizações de página