Morais Cardoso


Este fato que vou lhe contar aconteceu na pequena e pacata cidade de Uauá, no sertão baiano. Você nunca leu ou ouviu uma história como esta em toda sua vida.
Se você tem algum trauma, algum problema no sistema nervoso, síndrome do pânico, sofre do coração, por favor, peço que NÃO dê continuidade nesta história. (Leia outros textos, como por exemplo as Trovinhas de Humor ou o O palco da vida, mas por hipótese alguma leia a história assustadora que logo abaixo contarei.) Repito: você nunca ouviu uma história como esta.

O ano era 1922, Uauá ainda nem era uma cidade oficialmente. Entre os quatro mil habitantes daquela cidade, naquela época, o mais conhecido era Mané macumbeiro. Diziam que ele havia feito um pacto com o diabo, tudo que ele pedia, o demônio atendia.

Negro, alto, barbas brancas, chapéu de palha na cabeça, assim era Mané, olhos sempre para o chão, cabisbaixo. Ele morava sozinho num casarão antigo próximo a fazenda Pedra da Mata. Para entrar nessa fazenda, aliás, precisava passar pelo casarão de Mané. A distância era pouco menos de 4km.

Quem passava por ali todos os dias era Daniela, uma professora que lecionava para doze alunos na fazenda. Mané sempre provocava:

– Oi anjo loiro! Minha futura namorada! – dizia ele, sempre que a bela moça loira e de olhos azuis passava. Ela sempre com um sorriso tímido, pensava que ele estivesse apenas brincando. Mas ele não estava.

Mané sempre comentava com os donos da fazenda que um dia ainda iria namorá-la. Seus amigos gargalhavam e sempre diziam em tom de deboche:

– Para com isso Mané! Você tem 60 anos! A mocinha se tiver, tem só 20 anos, poderia ser até sua neta.

– Vocês vão ver! Meu amigo Lúcifer nunca deixou de atender meus pedidos! Tudo o que eu peço ele me atende. – E saiu com um sorriso malicioso nos lábios. Depois, voltou, tirou do bolso uma vela preta e mostrando aos companheiros disse: – Hoje mesmo, quando o relógio bater meia-noite, vou acender esta vela pra ele!
Pouco dias depois, um forte temporal assolou a cidade de Uauá. Mané, que estava dentro do casarão, escutou alguém bater na porta. Abriu-a rapidamente e levou um susto: era Daniela!

A professora entrou rapidamente e começou a abraçá-lo e a beijá-lo. Manoel mal podia acreditar no que estava acontecendo. Os dois estavam entre beijos e Manoel começou então a despir a jovem. Subitamente alguém bate novamente na porta e ouve-se em desespero:
– Mané! Mané! Socorro! É a Daniela! Abra a porta Mané!
Mané, assustado e sem entender o que acabara de acontecer olha ao lado: a bela jovem que estava nua em seus braços havia desaparecido. Ele se veste rapidamente e vai abrir a porta. Daniela, muito assustada diz:
– Caiu um raio na escola e ela pegou fogo! As crianças estão morrendo!
Manoel diz para que Daniela espere um minuto enquanto ele calça as botinas e pega seu casaco. Quando ele volta, Daniela já havia desaparecido.
Mané então pega sua carroça e vai à escola. Acelera seu cavalo o mais rápido que pode tentando encontrar Daniela, mas não a encontra. Seria impossível ela chegar tão rápido assim na escola apenas correndo, pensa ele. Conforme se aproxima consegue ouvir os gritos e gemidos desesperados das crianças e sentir o cheiro insuportável de fumaça que paira no ar.
Ao entrar na escola em chamas, Manoel não acredita no que seus olhos veem: o corpo de Daniela caído no chão. Estava morta. Manoel ajoelha-se e no mesmo instante pede perdão à Deus. Manoel, então emocionado, enfrenta o incêndio e ajuda criança por criança a sair daquela escola, coloca-as em sua carroça a as leva para casa.

Mesmo depois de morta, Daniela veio salvá-lo do demônio e ajudar as criancinhas... Veja só como o diabo nos engana de todo jeito.
A partir desse dia, todas as noites, ele vai ao cemitério de Uauá abraçar o túmulo de Daniela e agradecê-la por tudo.

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